sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Narrativa do teatro que sonhei

Escuro e frente ao palco recebo suas mãos
O barulho do silêncio compete com a respiração
De dois corpos imóveis e arrebatados
Não pelo espetáculo que já fora aplaudido
Mas pelos olhares que se cruzaram durante toda a encenação

Olhares antes fugidios
Agora densos se correspondem
E falam
E gritam

Palco
Cortina
Refletores
E cadeiras
São expectadores de uma cena tantas vezes evitada

Os corpos se aproximam
E dois corações brincam de forte bater

Tímidas
Minhas mãos percorrem sua pele
Seu rosto
E seus cabelos

Agora sinto seu cheiro
O cheiro do seu pescoço
Dos fios negros de cabelo
E os seus lábios tão perto dos meus
Quase me fazem beijar

Ouço uma voz grave que não é a sua
Dizendo palavras que não reconheço
Afastam-se os corpos
E os olhos fogem
Levantam-se os corpos
E caminham direção à porta

Nenhuma palavra dita
Nada fora dito
De súbito os olhos encontram-se outra vez
Mas estão separados por um mar de incertezas

Dentro dos nossos corpos agora frios
Batem corações sufocados pela ausência do falar
Nenhum adeus
E por diferente caminho
Desapareço na escuridão de uma noite sem luar

Nenhum comentário:

Postar um comentário