Escuro e frente ao palco recebo suas mãos
O barulho do silêncio compete com a respiração
De dois corpos imóveis e arrebatados
Não pelo espetáculo que já fora aplaudido
Mas pelos olhares que se cruzaram durante toda a encenação
Olhares antes fugidios
Agora densos se correspondem
E falam
E gritam
Palco
Cortina
Refletores
E cadeiras
São expectadores de uma cena tantas vezes evitada
Os corpos se aproximam
E dois corações brincam de forte bater
Tímidas
Minhas mãos percorrem sua pele
Seu rosto
E seus cabelos
Agora sinto seu cheiro
O cheiro do seu pescoço
Dos fios negros de cabelo
E os seus lábios tão perto dos meus
Quase me fazem beijar
Ouço uma voz grave que não é a sua
Dizendo palavras que não reconheço
Afastam-se os corpos
E os olhos fogem
Levantam-se os corpos
E caminham direção à porta
Nenhuma palavra dita
Nada fora dito
De súbito os olhos encontram-se outra vez
Mas estão separados por um mar de incertezas
Dentro dos nossos corpos agora frios
Batem corações sufocados pela ausência do falar
Nenhum adeus
E por diferente caminho
Desapareço na escuridão de uma noite sem luar
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